A ESPERA
Todos os dias, até o anoitecer, ela se dirigia ao cais da laguna e ali permanecia, com o olhar fixo no horizonte, como que à espera de alguém.
De fato, como diziam nas redondezas, o amor de sua vida partira em sua chalupa para mais uma de suas viagens, sendo que, da última vez, não mais retornara.
Na realidade, achavam que ela enlouquecera, posto que, mesmo em dias de intempéries, não se afastava de seu propósito.
Os que a conheciam mais intimamente, tentavam dissuadí-la dessa "via crucis", mas eram todas em vão.
E assim foi durante anos, pois nada a demovia de seu objetivo. Ela acreditava no regresso de seu amado.
Um belo dia, não resistiu e morreu na beira do cais. Seu corpo, esquecido, jazia sobre a velha madeira, assoprado pelo vento e iluminado pelo sol.
Já anoitecera quando um passante avistou, ao longe, o mastro da chalupa, com suas velas esgarçadas pelo tempo, se aproximando do cais.
Um homem, ainda jovem, mas visivelmente abatido, ancorou a chalupa e caminhou vagarosamente em direção ao corpo inerte.
A noite estava inebriante, com o céu deslumbrantemente estrelado.
O navegante, então, após debruçar-se sobre a pobre criatura, e beijar-lhe a gélida fronte, ergueu-se o mais alto que podia, e esticando os braços na direção do céu, puxou suavemente um lindo manto estrelado, e a cobriu carinhosamente.
Após alguns segundos, retornou ao pequeno navio e zarpou, incontinênti, rumo ao infinito!
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