A empregada doméstica que esbofeteou o filho, acusado de roubo, fato divulgado nos meios de comunicação, e certamente do conhecimento de milhares de pessoas, é prova contundente de "dignidade", pois demonstrou, aos olhos do mundo, que o sentimento de mácula em sua honra, foi maior que o maternal.
Todos os dias um velhinho, franzino, baixinho, nordestino, passa em minha porta vendendo cloro e desinfetante, gritando: "óia o croro aí!"
A necessidade de sobrevivência o faz trabalhar, quando já deveria estar descansando. Mas estamos no Brasil.
Somos clientes do velhinho, não por pena, mas porque reconhecemos que seus produtos são bons.
Hoje, esse senhor, me pediu um favor, ou seja, pediu se poderia guardar o carrinho com os galões de cloro no meu quintal, justificando que nada vendera, e que o carrinho estava muito pesado para subir a ladeira do morro onde mora.
Concordei com o pedido, com o apoio irrestrito de minha esposa, cuja bondade é comovente.
Guardamos o carrinho e, para minha surpresa, o velhinho destacou um dos galões para nos oferecer em agradecimento.
Não obstante nossa intensa recusa, e diante de sua inequívoca insistência, aceitamos a oferta, e vimos a satisfação emanada em seu olhar.
A contrapartida que nos foi dada em agradecimento, pelo velhinho do cloro, demonstra mais um exemplo de contundente dignidade, de apurado juízo de valor, de um homem simples, sem preparo intelectual, mas com suficiente discernimento para, ao valorizar um simples gesto de cooperação, sentir-se também valorizado.
Quisera que nossas autoridades, nossos políticos e uma grande parcela de nossa sociedade, tivessem dentro de si uma fração desses exemplos de dignidade, o que tornaria nosso país melhor, mas esse tesouro não encontra abrigo no coração dessa gente.
